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Cleópatra, qual a verdade por detrás do mito?
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Cleópatra, qual a verdade por detrás do mito?
Para os historiadores romanos, era apenas uma maléfica sedutora e de poder limitado. Tentaram ofuscá-la de muitas formas, contudo, talvez não imaginassem que ela se tornaria uma lenda impossível de deter. Mesmo imortal nos tempos de hoje, a verdadeira Cleópatra continua sendo praticamente um mistério.
Conta-se que Roma estava em festa, Otávio desfilava em seu carro e ante ele, deveria marchar devidamente acorrentada, a mulher que ele mais odiava: Cleópatra VII. O ano era 29 a.C, estavam celebrando a vitória sobre tribos bárbaras do norte e sobre o Egito. Porém, o grandioso espetáculo não estava completo. A altiva rainha do Egito, que havia sido vencida por Otávio na batalha de Áccio dois anos antes, decidiu pôr fim à sua vida antes de ser humilhada daquela forma. Em seu lugar, quem sofria o motejo era uma efígie da deusa Ísis pelas ruas de Roma. Cleópatra havia desaparecido da face da Terra e também da história.
Em Roma, havia nascido o mito da "regina meretrix", mulher que com seus feitiços havia levado à perdição dois dos homens mais importantes de lá.
Os historiadores antigos acabaram exaltando a sua fama de "femme fatale" e quase não dá para diferenciar o que seria invenção ou não. Graças a isto, durante séculos, seu papel de seduzir homens era maior que o seu de rainha do Egito. Ignorava-se completamente que ela lutou bravamente para manter a independência do seu país - à sua maneira às vezes.
Não é fácil se chegar até a verdadeira Cleópatra e desmistificá-la diante de uma grande falta de informações. De acordo com Plutarco, ela cometeu suicídio as 39 anos, logo, imagina-se que tenha nascido em 70 ou 69 a.C. Seu pai era Ptolomeu XII, contudo, não se sabe quem era sua mãe. Também não se sabe nada a respeito de sua infância ou adolescência.
O palácio real de Alexandria era um ninho de cobras e de acordo com documentos, no ano de 51 a.C, Ptolomeu XII morreu, abrindo as cortinas para que Cleópatra VII entrasse na história. Ela estava casada com Ptolomeu XIII, seu irmão mais novo e ficou em segundo lugar na hierarquia.
Reconstrução de Alexandria, que era considerada "a cidade número um do mundo civilizado", sua capital da moda e da cultura.
Roma estava vivendo uma guerra civil entre os partidários de Júlio César e Pompeu, este saiu derrotado e acabou fugindo para o Egito. Os servos de Ptolomeu XIII enviam então para Julio César a cabeça de Pompeu decapitada, com a intenção de que a ira do poderoso romano não caísse sobre eles por terem dado refúgio ao inimigo.
Mesmo sem empolgação com o presente sangrento, César resolveu ir até Alexandria. Neste momento, acontece um dos episódios que imortalizaram Cleópatra de forma teatral. Ela conseguiu que um barqueiro a levasse até Alexandria, mesmo depois de ter sido expulsa do Egito por seu irmão. César estava em seus aposentos e de acordo com Plutarco, ele recebeu um tapete como presente. Quando o desenrolaram, diante de seus olhos surgiu uma jovem, um tanto desalinhada. Era Cleópatra que o encantou de várias formas e a partir dali tornou-se sua amante.
Júlio César
Graças a César, Cleópatra conseguiu tomar seu lugar novamente como segunda na hierarquia no trono egípcio. Isso fez com que altos funcionários que não gostaram da intervenção de Roma reunissem um exército e avançassem contra eles. O conflito durou 4 meses e ficou conhecido como "as guerras de Alexandria".
Os egípcios foram derrotados e César ficou diante de um dilema, converter ou não o Egito em província Romana? A decisão foi não fazer isso. Um território tão povoado e com muitas riquezas naturais não poderia ficar nas mãos de um governador que pudesse se voltar contra Roma. A solução foi ter um casal real sob controle, já que Ptolomeu XIII acabou perecendo durante a guerra.
Assim, buscou outro marido para Cleópatra, seu irmão Ptolomeu XVI, de 13 anos. Ela conseguiu o que tanto almejava, reinar conjuntamente e de forma autêntica.
Não se sabe o motivo, mas após seu regresso a Roma em 46 a.C, Júlio César mandou chamar o casal real do Egito, talvez para demonstrar seu domínio sobre eles. Alguns acreditam que era por não conseguir ficar longe da rainha e queria tê-la por perto novamente.
Sua presença em Roma fez com que a fama de sedutora ganhasse força, já que mesmo casado, César não se dava ao trabalho de esconder seu romance com Cleópatra.
Para o alívio do povo romano, entretanto, César nomeou Otávio como sucessor e fez com que todos pensassem que a rainha era apenas um capricho.
Em Março de 44 a.C, César foi assassinado e com isso, Cleópatra e seu séquito abandonaram Roma. A rainha que havia dado à luz Cesário, seu filho com o romano, tinha planos de que um dia ele pudesse reclamar seus direitos. Também fazia parte de seus planos ser rainha absoluta do Egito e para isso, teria que esperar a morte de seu marido.
Ela não esperou que ele morresse de causas naturais e de acordo com alguns historiadores antigos, mandou que Ptolomeu XIV fosse assassinado. Para Flávio Josefo, por um exemplo, ele poderia ter sido envenenado. Graças a isso, Cleópatra VII tornou-se rainha e seu filho foi nomeado co-regente.
Cleópatra VII reinava absoluta e Roma voltou a bater à sua porta, dessa vez sob a forma de Marco Antônio, em 42 a.C. Ele havia sido um dos companheiros de César na guerra das Gálias.
Após uma nova guerra civil, o governo das províncias romanas foi repartido e Marco Antônio ficou com o Oriente, se instalando em Tarso. Lá, ele mandou chamar Cleópatra para resolver assuntos como a falta de apoio do Egito durante a recente guerra, assim como para garantir que não faltaria tal apoio contra os partos - povo contra o qual estavam lutando.
Busto de Marco Antônio
Para evitar a dureza de Marco Antônio, ela chegou com pompa, em uma embarcação de velas púrpuras, e a tripulação era em sua maioria de mulheres. Cleópatra estava sentada sobre um trono dourado e o convidou para subir no barco, oferecendo as lendárias pérolas dissolvidas em vinagre - uma história que é contada de muitas formas. Astuta, a rainha sabia que ele gostava de comparar-se ao deus Dionísio e dava para ele o espetáculo que precisava para mantê-lo aos seus pés. Plutarco batizou isso como "a vida inimitável".
Marco Antônio deixou de lado a guerra e esqueceu que tinha uma esposa, Fulvia, ficando à mercê dos prazeres proporcionados pela rainha. Contudo, o inicio dos anos 40, problemas maiores fizeram com que ele focasse a sua atenção. No Oriente, os partos haviam recuperado terreno em muitas províncias e no Ocidente, o problema de nome Otávio, fazendo com que ele finalmente regressasse à Roma.
Cleópatra deu à luz gêmeos, Cleópatra Selene e Alexandre Hélios, entretanto, o pai não foi conhecê-los. Após a morte da esposa, Marco Antônio se casou com Otávia, irmã de Otávio.
Cleópatra representada como a deusa Ísis.
Após 3 anos separados, Marco Antônio precisou da ajuda do exército egípcio, em 37 a.C, e preferiu conversar pessoalmente com a rainha. Ela se deslocou até a Antióquia onde ele estava instalado e a paixão reacendeu. Já a campanha militar que Marco Antônio estava envolvido foi um fracasso e os romanos culparam Cleópatra, achando que ela e seus truques impediram a concentração do chefe do exército. Essa acusação gera debates entre historiadores, pois, ela não tinha nada a ganhar com um homem derrotado, sem poder e influência em Roma. Precisava de um amante forte que garantisse justamente a independência do Egito.
O casal foi para Alexandria e Marco Antônio achou que o Oriente era seu lar, tanto que vivia como se fosse um deus e sentia-se tal como um. Já Otávio, precisava apenas de um motivo para iniciar um confronto, assim, poderia governar sozinho a poderosa nação egípcia.
Em 36 a.C após uma pequena vitória na Armênia contra o Império Parto, Antônio organizou um desfile triunfal em Alexandria, algo que só deveria ser celebrado em Roma. Não bastando isso, ele foi mais longe, proclamou durante a cerimônia seus filhos com Cleópatra, inclusive Ptolomeu Filadelfo que havia sido o último concebido, reis de vários territórios romanos no Oriente. Para a amada rainha, reservou o título de "Rainha dos reis". Pensa-se que foi apenas uma extravagância, dado que seus filhos eram pequenos demais, todavia, era a afronta que Otávio esperava para ter Marco Antônio como traidor de Roma. (Mais abaixo, uma das moedas mostradas foi cunhada em homenagem a esta cerimônia.)
O confronto teve inicio, no começo um tanto sutil até que as "máquinas bélicas" entrassem em ação. Em 2 de Setembro de 31 a.C, Antônio e Cleópatra foram vencidos em Áccio. Novamente em Alexandria, o casal decidiu viver seus últimos anos como estavam acostumados, com festas, romance e muito luxo.
No inicio de Agosto de 30 a.C Otávio chegou em Alexandria, entretanto, as crônicas romanas são confusas sobre os acontecimentos após isso. Conta-se que Marco Antônio recebeu a falsa notícia de que Cleópatra havia se suicidado e lançou-se contra a própria espada, mas não acertou seu coração. A rainha teve tempo o suficiente para chegar e tê-lo em seus braços antes de morrer. Não suportando aquilo tudo, ela se trancou com duas servas fiéis e deu fim à sua vida. Outras fontes dizem que ela foi presa por Otávio logo após a morte do amado. Também não se tem certeza sobre como ela morreu, se teria sido com veneno ou picada por uma cobra. Essa última hipótese, sem dúvidas foi a preferida na memória coletiva, já que o animal era símbolo de poder entre os faraós.
O historiador Christoph Schäfer, da universidade de Trier, acredita que ela mesma tenha preparado o veneno: "Considerando os sintomas, foi uma mistura de acônito, uma planta tóxica, cicuta e ópio".
No século XX, Cleópatra VII ganhou um rosto, o de Elizabeth Taylor. Uma atriz de beleza única e a que alcançou maior fama encarnando tal papel. Até então, o imaginário coletivo carecia de uma imagem que fizesse referência à ela e a diferença entre as representações de sua época sempre deixaram dúvidas de como teria sido de fato. O dito jocoso de André Malraux continua verdadeiro: "Nefertiti é um rosto sem uma rainha, Cleópatra é uma rainha sem rosto".
A diva Elizabeth Taylor, como Cleópatra
Plutarco dizia que ela não tinha uma beleza convencional, e mesmo achando-se que a gravação é ruim, os retratos em moedas sustentam tal afirmação. Mas, algo era certo, seu rosto em nada comprometia o seu charme indiscutível, seu humor fácil e os poderes de persuasão. E novamente segundo Plutarco, a rainha falava grego, hebraico, aramaico, árabe, etíope, medo e latim. Também foi a primeira monarca ptolomaica a falar na língua do povo que governava, o egípcio demótico. Obviamente sua inteligência também era o diferencial para conquistar um homem como Julio César, que era conhecido pela exigência.
E se nos textos romanos, Cleópatra era apenas um personagem secundário, Shakespeare em sua obra "Marco Antônio e Cleópatra", lhe deu o destaque que merecia. A partir daí, a literatura e as artes acabaram deixando em evidência para todos a vida da última governante ptolomaica, embora até hoje ela continue envolta em mitos e histórias não muito confiáveis.
Busto em mármore pariano que se parece muito com a Cleópatra conhecida em moedas e talvez o mais aproximado. Diante da frase de Pascal, "Se o nariz de Cleópatra fosse menor, toda a face do mundo teria sido diferente" - há uma certa ironia na parte quebrada.
Abaixo, algumas moedas com o rosto de Cleópatra VII, imagens e parte das descrições do livro de Stacy Schiff, Cleópatra: Uma Biografia.
Moeda de bronze cunhada no Chipre, entre 46 e 47 a.C, para comemorar o nascimento de Cesário. Ela usa um diadema largo e carrega o filho no colo - como imagens da deusa Ísis.
Moeda de bronze de oitenta dracmas, cunhada em Alexandria.
Tetradracma de prata de 36 a.C, cunhado na Antióquia, anunciando a aliança política de Cleópatra e Marco Antônio. Em menção a Ísis, ela é identificada como "Rainha Kleopatra, a Nova Deusa". Tem uma notável semelhança com Marco Antônio, ou, como já se sugeriu, ele com ela.
Curiosamente, no livro Crisálidas datado de 1864 há um poema escrito pela francesa Mme. Emile de Girardin, traduzido por ninguém menos que Machado de Assis, que fala sobre a soberana. O poema ''Cleópatra: canto de um escravo", narra o caso de um personagem anônimo, que se declara escravo de uma paixão por Cleópatra.
Seria a "nova Ísis" exaltada pelo poema também uma musa para Machado de Assis? Mesmo que não tenha sido ele o autor, é muito interessante algo com tal temática figurar em um livro de coletâneas dessa época. Alguma dúvida de que a Egiptomania era realmente interesse de muitos em tempos do Brasil Império?
Conta-se que Roma estava em festa, Otávio desfilava em seu carro e ante ele, deveria marchar devidamente acorrentada, a mulher que ele mais odiava: Cleópatra VII. O ano era 29 a.C, estavam celebrando a vitória sobre tribos bárbaras do norte e sobre o Egito. Porém, o grandioso espetáculo não estava completo. A altiva rainha do Egito, que havia sido vencida por Otávio na batalha de Áccio dois anos antes, decidiu pôr fim à sua vida antes de ser humilhada daquela forma. Em seu lugar, quem sofria o motejo era uma efígie da deusa Ísis pelas ruas de Roma. Cleópatra havia desaparecido da face da Terra e também da história.
Em Roma, havia nascido o mito da "regina meretrix", mulher que com seus feitiços havia levado à perdição dois dos homens mais importantes de lá.
Os historiadores antigos acabaram exaltando a sua fama de "femme fatale" e quase não dá para diferenciar o que seria invenção ou não. Graças a isto, durante séculos, seu papel de seduzir homens era maior que o seu de rainha do Egito. Ignorava-se completamente que ela lutou bravamente para manter a independência do seu país - à sua maneira às vezes.
Parte de uma pintura de Alexandre Cabanel representando Cleópatra
Julio César e Cleópatra - Um resumo de sua história
Não é fácil se chegar até a verdadeira Cleópatra e desmistificá-la diante de uma grande falta de informações. De acordo com Plutarco, ela cometeu suicídio as 39 anos, logo, imagina-se que tenha nascido em 70 ou 69 a.C. Seu pai era Ptolomeu XII, contudo, não se sabe quem era sua mãe. Também não se sabe nada a respeito de sua infância ou adolescência.
O palácio real de Alexandria era um ninho de cobras e de acordo com documentos, no ano de 51 a.C, Ptolomeu XII morreu, abrindo as cortinas para que Cleópatra VII entrasse na história. Ela estava casada com Ptolomeu XIII, seu irmão mais novo e ficou em segundo lugar na hierarquia.
Reconstrução de Alexandria, que era considerada "a cidade número um do mundo civilizado", sua capital da moda e da cultura.
Roma estava vivendo uma guerra civil entre os partidários de Júlio César e Pompeu, este saiu derrotado e acabou fugindo para o Egito. Os servos de Ptolomeu XIII enviam então para Julio César a cabeça de Pompeu decapitada, com a intenção de que a ira do poderoso romano não caísse sobre eles por terem dado refúgio ao inimigo.
Mesmo sem empolgação com o presente sangrento, César resolveu ir até Alexandria. Neste momento, acontece um dos episódios que imortalizaram Cleópatra de forma teatral. Ela conseguiu que um barqueiro a levasse até Alexandria, mesmo depois de ter sido expulsa do Egito por seu irmão. César estava em seus aposentos e de acordo com Plutarco, ele recebeu um tapete como presente. Quando o desenrolaram, diante de seus olhos surgiu uma jovem, um tanto desalinhada. Era Cleópatra que o encantou de várias formas e a partir dali tornou-se sua amante.
Júlio César
Graças a César, Cleópatra conseguiu tomar seu lugar novamente como segunda na hierarquia no trono egípcio. Isso fez com que altos funcionários que não gostaram da intervenção de Roma reunissem um exército e avançassem contra eles. O conflito durou 4 meses e ficou conhecido como "as guerras de Alexandria".
Os egípcios foram derrotados e César ficou diante de um dilema, converter ou não o Egito em província Romana? A decisão foi não fazer isso. Um território tão povoado e com muitas riquezas naturais não poderia ficar nas mãos de um governador que pudesse se voltar contra Roma. A solução foi ter um casal real sob controle, já que Ptolomeu XIII acabou perecendo durante a guerra.
Assim, buscou outro marido para Cleópatra, seu irmão Ptolomeu XVI, de 13 anos. Ela conseguiu o que tanto almejava, reinar conjuntamente e de forma autêntica.
Não se sabe o motivo, mas após seu regresso a Roma em 46 a.C, Júlio César mandou chamar o casal real do Egito, talvez para demonstrar seu domínio sobre eles. Alguns acreditam que era por não conseguir ficar longe da rainha e queria tê-la por perto novamente.
Sua presença em Roma fez com que a fama de sedutora ganhasse força, já que mesmo casado, César não se dava ao trabalho de esconder seu romance com Cleópatra.
Para o alívio do povo romano, entretanto, César nomeou Otávio como sucessor e fez com que todos pensassem que a rainha era apenas um capricho.
Em Março de 44 a.C, César foi assassinado e com isso, Cleópatra e seu séquito abandonaram Roma. A rainha que havia dado à luz Cesário, seu filho com o romano, tinha planos de que um dia ele pudesse reclamar seus direitos. Também fazia parte de seus planos ser rainha absoluta do Egito e para isso, teria que esperar a morte de seu marido.
Ela não esperou que ele morresse de causas naturais e de acordo com alguns historiadores antigos, mandou que Ptolomeu XIV fosse assassinado. Para Flávio Josefo, por um exemplo, ele poderia ter sido envenenado. Graças a isso, Cleópatra VII tornou-se rainha e seu filho foi nomeado co-regente.
A segunda sedução - Marco Antônio
Cleópatra VII reinava absoluta e Roma voltou a bater à sua porta, dessa vez sob a forma de Marco Antônio, em 42 a.C. Ele havia sido um dos companheiros de César na guerra das Gálias.
Após uma nova guerra civil, o governo das províncias romanas foi repartido e Marco Antônio ficou com o Oriente, se instalando em Tarso. Lá, ele mandou chamar Cleópatra para resolver assuntos como a falta de apoio do Egito durante a recente guerra, assim como para garantir que não faltaria tal apoio contra os partos - povo contra o qual estavam lutando.
Busto de Marco Antônio
Para evitar a dureza de Marco Antônio, ela chegou com pompa, em uma embarcação de velas púrpuras, e a tripulação era em sua maioria de mulheres. Cleópatra estava sentada sobre um trono dourado e o convidou para subir no barco, oferecendo as lendárias pérolas dissolvidas em vinagre - uma história que é contada de muitas formas. Astuta, a rainha sabia que ele gostava de comparar-se ao deus Dionísio e dava para ele o espetáculo que precisava para mantê-lo aos seus pés. Plutarco batizou isso como "a vida inimitável".
Marco Antônio deixou de lado a guerra e esqueceu que tinha uma esposa, Fulvia, ficando à mercê dos prazeres proporcionados pela rainha. Contudo, o inicio dos anos 40, problemas maiores fizeram com que ele focasse a sua atenção. No Oriente, os partos haviam recuperado terreno em muitas províncias e no Ocidente, o problema de nome Otávio, fazendo com que ele finalmente regressasse à Roma.
Cleópatra deu à luz gêmeos, Cleópatra Selene e Alexandre Hélios, entretanto, o pai não foi conhecê-los. Após a morte da esposa, Marco Antônio se casou com Otávia, irmã de Otávio.
Cleópatra representada como a deusa Ísis.
Após 3 anos separados, Marco Antônio precisou da ajuda do exército egípcio, em 37 a.C, e preferiu conversar pessoalmente com a rainha. Ela se deslocou até a Antióquia onde ele estava instalado e a paixão reacendeu. Já a campanha militar que Marco Antônio estava envolvido foi um fracasso e os romanos culparam Cleópatra, achando que ela e seus truques impediram a concentração do chefe do exército. Essa acusação gera debates entre historiadores, pois, ela não tinha nada a ganhar com um homem derrotado, sem poder e influência em Roma. Precisava de um amante forte que garantisse justamente a independência do Egito.
O casal foi para Alexandria e Marco Antônio achou que o Oriente era seu lar, tanto que vivia como se fosse um deus e sentia-se tal como um. Já Otávio, precisava apenas de um motivo para iniciar um confronto, assim, poderia governar sozinho a poderosa nação egípcia.
Em 36 a.C após uma pequena vitória na Armênia contra o Império Parto, Antônio organizou um desfile triunfal em Alexandria, algo que só deveria ser celebrado em Roma. Não bastando isso, ele foi mais longe, proclamou durante a cerimônia seus filhos com Cleópatra, inclusive Ptolomeu Filadelfo que havia sido o último concebido, reis de vários territórios romanos no Oriente. Para a amada rainha, reservou o título de "Rainha dos reis". Pensa-se que foi apenas uma extravagância, dado que seus filhos eram pequenos demais, todavia, era a afronta que Otávio esperava para ter Marco Antônio como traidor de Roma. (Mais abaixo, uma das moedas mostradas foi cunhada em homenagem a esta cerimônia.)
O confronto teve inicio, no começo um tanto sutil até que as "máquinas bélicas" entrassem em ação. Em 2 de Setembro de 31 a.C, Antônio e Cleópatra foram vencidos em Áccio. Novamente em Alexandria, o casal decidiu viver seus últimos anos como estavam acostumados, com festas, romance e muito luxo.
No inicio de Agosto de 30 a.C Otávio chegou em Alexandria, entretanto, as crônicas romanas são confusas sobre os acontecimentos após isso. Conta-se que Marco Antônio recebeu a falsa notícia de que Cleópatra havia se suicidado e lançou-se contra a própria espada, mas não acertou seu coração. A rainha teve tempo o suficiente para chegar e tê-lo em seus braços antes de morrer. Não suportando aquilo tudo, ela se trancou com duas servas fiéis e deu fim à sua vida. Outras fontes dizem que ela foi presa por Otávio logo após a morte do amado. Também não se tem certeza sobre como ela morreu, se teria sido com veneno ou picada por uma cobra. Essa última hipótese, sem dúvidas foi a preferida na memória coletiva, já que o animal era símbolo de poder entre os faraós.
O historiador Christoph Schäfer, da universidade de Trier, acredita que ela mesma tenha preparado o veneno: "Considerando os sintomas, foi uma mistura de acônito, uma planta tóxica, cicuta e ópio".
Cleópatra era tão bela quanto alguns acreditam?
No século XX, Cleópatra VII ganhou um rosto, o de Elizabeth Taylor. Uma atriz de beleza única e a que alcançou maior fama encarnando tal papel. Até então, o imaginário coletivo carecia de uma imagem que fizesse referência à ela e a diferença entre as representações de sua época sempre deixaram dúvidas de como teria sido de fato. O dito jocoso de André Malraux continua verdadeiro: "Nefertiti é um rosto sem uma rainha, Cleópatra é uma rainha sem rosto".
A diva Elizabeth Taylor, como Cleópatra
Plutarco dizia que ela não tinha uma beleza convencional, e mesmo achando-se que a gravação é ruim, os retratos em moedas sustentam tal afirmação. Mas, algo era certo, seu rosto em nada comprometia o seu charme indiscutível, seu humor fácil e os poderes de persuasão. E novamente segundo Plutarco, a rainha falava grego, hebraico, aramaico, árabe, etíope, medo e latim. Também foi a primeira monarca ptolomaica a falar na língua do povo que governava, o egípcio demótico. Obviamente sua inteligência também era o diferencial para conquistar um homem como Julio César, que era conhecido pela exigência.
E se nos textos romanos, Cleópatra era apenas um personagem secundário, Shakespeare em sua obra "Marco Antônio e Cleópatra", lhe deu o destaque que merecia. A partir daí, a literatura e as artes acabaram deixando em evidência para todos a vida da última governante ptolomaica, embora até hoje ela continue envolta em mitos e histórias não muito confiáveis.
Busto em mármore pariano que se parece muito com a Cleópatra conhecida em moedas e talvez o mais aproximado. Diante da frase de Pascal, "Se o nariz de Cleópatra fosse menor, toda a face do mundo teria sido diferente" - há uma certa ironia na parte quebrada.
Abaixo, algumas moedas com o rosto de Cleópatra VII, imagens e parte das descrições do livro de Stacy Schiff, Cleópatra: Uma Biografia.
Moeda de bronze cunhada no Chipre, entre 46 e 47 a.C, para comemorar o nascimento de Cesário. Ela usa um diadema largo e carrega o filho no colo - como imagens da deusa Ísis.
Moeda de bronze de oitenta dracmas, cunhada em Alexandria.
Tetradracma de prata de 36 a.C, cunhado na Antióquia, anunciando a aliança política de Cleópatra e Marco Antônio. Em menção a Ísis, ela é identificada como "Rainha Kleopatra, a Nova Deusa". Tem uma notável semelhança com Marco Antônio, ou, como já se sugeriu, ele com ela.
Curiosidade: Cleópatra em um livro de poesia brasileiro
Curiosamente, no livro Crisálidas datado de 1864 há um poema escrito pela francesa Mme. Emile de Girardin, traduzido por ninguém menos que Machado de Assis, que fala sobre a soberana. O poema ''Cleópatra: canto de um escravo", narra o caso de um personagem anônimo, que se declara escravo de uma paixão por Cleópatra.
Seria a "nova Ísis" exaltada pelo poema também uma musa para Machado de Assis? Mesmo que não tenha sido ele o autor, é muito interessante algo com tal temática figurar em um livro de coletâneas dessa época. Alguma dúvida de que a Egiptomania era realmente interesse de muitos em tempos do Brasil Império?
Abaixo, a primeira e a sétima estrofe do poema:
"Era rainha e formosa,
Sobre cem povos reinava,
E tinha uma turba escrava
Dos mais poderosos reis."
"E a nova Ísis que o Egito
Adora curvo e humilhado
O pobre servo curvado
Olhou lânguida a sorrir;
Vi Cleópatra, a rainha,
Tremer pálida em meu seio;
Morte foi-se-me o receio,
Aqui estou, podes ferir."
"Era rainha e formosa,
Sobre cem povos reinava,
E tinha uma turba escrava
Dos mais poderosos reis."
"E a nova Ísis que o Egito
Adora curvo e humilhado
O pobre servo curvado
Olhou lânguida a sorrir;
Vi Cleópatra, a rainha,
Tremer pálida em meu seio;
Morte foi-se-me o receio,
Aqui estou, podes ferir."
Texto de minha autoria (Mirian Aud), postado originalmente no site Egiptologia Brasil.
Última edição por Mirian® em 20th outubro 2014, 10:25 pm, editado 6 vez(es)
NeferMaat®- Moderador
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Respeito às Regras :
Re: Cleópatra, qual a verdade por detrás do mito?
Se era bonita talvez nunca saberemos, mas que Cleo era dotada de tantos outros atributos como uma aguçada inteligência, influência e articulação, não temos dúvidas, pois ela conquistou dois dos mais notáveis imperadores de nossa história recente, e isso não é para qualquer uma.
E não conhecia esse poema traduzido por Machado de Assis, muito bom.
E não conhecia esse poema traduzido por Machado de Assis, muito bom.
Re: Cleópatra, qual a verdade por detrás do mito?
Uma coisa que me tirou o sono sobre esse poema, é que há um tempo quando eu estava fazendo o artigo sobre Dom Pedro, li um texto da Margaret Bakos e ela dizia que Machado de Assis era o autor. Inclusive, ela trabalhou em cima de cada estrofe para estudar o que dizia de fato e os motivos que levaram o escritor a fazer algo com esse tema. Mas, eu fiquei com uma pulguinha me incomodando, rsrsrs... Não parece em nada com o jeito do Machado, aí deixei de lado naquele dia. Ontem resolvi pesquisar de novo, até que encontrei a verdadeira autora. Sempre soube que ele fazia traduções, tanto que no Crisálidas tem outros textos de estrangeiros.
E sabe o que me deixa mais abismada, é que umas duas pessoas fizeram suas teses com base no que a M. Bakos escreveu, afirmando que Machado de Assis era o autor. Eu achei até que fácil as informações, não sei como ninguém se deu ao trabalho de pesquisar.
E sobre o texto, percebi que em vários livros o que está escrito aí é unanimidade... Tanto que quase não dá pra mudar algumas palavras de Plutarco e discordar dele, rsrs. Fico feliz que tenha gostado. :
E sabe o que me deixa mais abismada, é que umas duas pessoas fizeram suas teses com base no que a M. Bakos escreveu, afirmando que Machado de Assis era o autor. Eu achei até que fácil as informações, não sei como ninguém se deu ao trabalho de pesquisar.
E sobre o texto, percebi que em vários livros o que está escrito aí é unanimidade... Tanto que quase não dá pra mudar algumas palavras de Plutarco e discordar dele, rsrs. Fico feliz que tenha gostado. :
NeferMaat®- Moderador
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